Número de médicos no Brasil aumenta, mas distribuição é desigual
Número de médicos no Brasil aumenta, mas distribuição é desigual
Mário Scheffer fala sobre o estudo "Demografia Médica no Brasil", realizado conjuntamente pela Faculdade de Medicina da USP e Associação Médica Brasileira, que todo ano atualiza a contagem, distribuição e perfil dos médicos no País
21 SET 2023POR JORNAL DA USP NO AR
O desafio que acompanha a formação dos novos médicos é a promoção de um ensino de qualidade e a distribuição dos profissionais nas regiões de maior demanda por atendimento - Crédito: Freepik
O estudo Demografia Médica no Brasil 2023, realizado pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB), aponta a desproporção entre a população e número de médicos. Mário Scheffer, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do estudo, explica que o número de médicos aumentou nos últimos anos e que o problema maior está na distribuição.
O estudo
O estudo é conduzido desde 2010 e, depois da divulgação do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2022, foi possível atualizar a contagem, distribuição e perfil dos médicos no Brasil. De acordo com o professor, o número de profissionais aumentou em todas as regiões do País. “Isso é uma consequência direta da grande abertura e expansão de cursos de medicina e de vagas em escolas médicas, que aconteceu, principalmente, na última década. A previsão, segundo o estudo, é que haja 1 milhão de médicos em pouco mais de dez anos “, comenta.
Para Scheffer, o desafio que acompanha a formação dos novos médicos é a promoção de um ensino de qualidade e a distribuição dos profissionais nas regiões de maior demanda por atendimento.
Mário Scheffer – Foto: Arquivo Pessoal
Desproporção de médicos
O estudo realizado pela FMUSP classifica os médicos entre generalistas – profissionais que no final da graduação estão inseridos no mercado de trabalho e não realizaram uma especialização ou concluíram um programa de residência médica – e especialistas – médicos que seguiram uma especialização e realizaram um programa de residência.
De acordo com Scheffer, existem 200 mil médicos generalistas no Brasil, e o número segue aumentando. Entretanto, há uma preocupação acerca da formação desses médicos: “Muitas vezes, esses profissionais estudam em cursos de baixa qualidade e passam a atender justamente onde a população mais precisa, na atenção primária, nos prontos-socorros, nos plantões de hospitais”.
No caso dos médicos especialistas, o estudo atestou que há uma grande concentração dos profissionais principalmente nas capitais e nos serviços privados. “Faltam, portanto, especialistas, principalmente para atender à rede pública. Esse é um dos motivos das filas em consultas, exames e cirurgias no SUS “, explica Scheffer. Atualmente, existem mais de 350 mil médicos especialistas distribuídos em mais de 55 especialidades, que estão mal divididos no País.
Além disso, outra preocupação apontada pelo professor é se haverá médicos especialistas suficientes para os próximos anos, já que a demanda será mais alta. “A população com mais de 60 anos só cresce no Brasil, e com isso haverá aumento das doenças crônicas, que estão entre as principais causas de adoecimento e morte no Brasil”, discorre.
Especialização
Recentemente, foram implantadas algumas políticas para tentar melhorar a questão dos médicos, como o Programa Nacional de Redução das Filas, direcionado para cirurgias, exames e consultas. Entretanto, esse programa depende da maior disponibilidade de especialistas para funcionar plenamente.
O estudo identificou que existe uma grande defasagem entre a graduação e a formação especializada. “A residência médica, que é a principal modalidade de formar especialistas, não acompanhou a abertura de escolas médicas e de cursos de graduação”, aponta Scheffer. Uma das formas de solucionar as questões apresentadas, portanto, é resgatar a capacidade do Brasil de formar mais especialistas.
Algumas áreas específicas estão com maior defasagem, como os anestesiologistas. Muitas cirurgias são adiadas, o que aumenta a fila de espera, porque não há profissionais suficientes. Um dado apontado pelo estudo mostrou que o número de anestesistas no Maranhão é cinco vezes menor do que no Rio de Janeiro. Esse cenário se repete, também, na taxa de cirurgiões – no Pará, por exemplo, a oferta desses profissionais é seis vezes menor que no Distrito Federal.
O primeiro passo para melhorar o cenário apontado pelo estudo é avaliar a qualidade da formação dos médicos na graduação. Houve uma expansão de novos cursos de medicina, que não foi acompanhada de um modelo adequado de avaliação. Também é preciso pensar na formação especializada desses profissionais, através da promoção de vagas de residência, principalmente em especialidades estratégicas para o sistema de saúde.
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