Em meio às cinzas, histórias resistem como legado do Mandela Comunidade teve barracos incendiados em 2023, mas fez memória no coração de quem ali morou
Por Natália Olliver | 02/01/2024 07:37
Bonecas são encontradas em pilhas de roupas queimadas na comunidade (Foto: Natália Olliver)
Em meio às cinzas, registros da vida que deixou de acontecer. Na pilha de roupas queimadas, brinquedos e lembranças. O que resiste da favela do Mandela após o incêndio de novembro de 2023 e a nova vida dos moradores são histórias construídas no cotidiano e que, como um rastro, continuam fixadas no terreno para lembrar que o passado integra o presente.
Com a mudança dos moradores para conjuntos habitacionais prometidos pela Prefeitura de Campo Grande nos próximos anos, residentes que não tiveram os barracos atingidos e preferiram ficar no local até que as obras terminem, se alegram com a possibilidade esperada há 8 anos de deixar as tristezas para trás e construir novos sonhos em casas de alvenaria.
Parte do terreno onde 188 barracos ficavam agora, para quem observa rapidamente, não passa de um punhado de terra e entulhos. Ali não houve guerras, mas os pertences deixados para trás lembram os cenários críticos vistos nelas.
A reportagem caminhou pelo que restou da comunidade. No chão, inúmeras roupas se misturam ao lixo e aos restos do que um dia foram casas improvisadas, feitas de madeirite, lonas e telhados metálicos. A presença de bonecas e bolas são marcantes no local e se confundem à pilha de roupas queimadas. Ursinhos, sapatos e garrafas também fazem parte da cena.
Destroços de barracos na favela do Mandela, em Campo Grande (Foto: Natália Olliver)
O Mandela fez a própria história e fez memória nos nossos corações. Tudo aqui foi um aprendizado. Vamos carregar esse nome. Vamos acabar com Mandela aqui e daqui pra frente levar só a mudança e coisas boas. A história fica com a gente, ela vai pra onde formos", disse a líder de comunidade, Greiciele Naira Argilar Ferreira.
Para ela, a mudança será a oportunidade dos moradores realizarem sonhos e acreditarem em um futuro menos desigual. “O Mandela foi um aprendizado agora vou concluir os meus sonhos na minha casa. Eles precisam curtir mais a vida e correr atrás do foco de cada um. As tristezas morrem aqui”.
Nos corredores das casas que ficaram em pé, madeiras colocadas na terra ajudam o ir e vir nas vielas apertadas. Transitar na comunidade fica ainda mais complicado quando chove.
Tábuas de madeira são colocadas no chão para moradores conseguirem passar (Foto: Natália Olliver)
Para chegar à casa de Sandra Maria Pereira dos Reis, de 65 anos, é preciso passar pelo barro. Na casa simples de telhado metálico, um ventilador sem grade trabalha para manter a temperatura suportável no lugar. Ela convida a reportagem para entrar e conta sobre a esperança em deixar o local.
“Enquanto há esperança há vida. Ninguém merece ficar em um lugar desse, quando chove então é pior ainda. O que queremos é sair daqui e ir para um lugar melhor e ter esperança de que vai continuar para onde formos”.
Conforme já publicado pelo Lado B, moradores se apegam ao futuro positivo para esquecer as tristezas vividas ali e conseguir seguir com a vida, agora em um novo endereço, mas que carrega o mesmo nome: Mandela.
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