Do TUD ao curso de Artes Cênicas da UFGD, a evolução do Teatro em Dourados
18 SET 2023 - POR ROZEMBERGUE MARQUES
Nesta terça feira, 19, é celebrado o Dia Nacional do Teatro. A data foi instituída para homenagear uma das manifestações artísticas mais antigas da humanidade, em especial os artistas brasileiros desta área. Em Dourados, quando se fala em teatro um nome que contribuiu em muito para que fossem "erguidas as cortinas" dessa arte é o do professor Wilson Biasotto (In Memorian). Foi dele iniciativa de criar o Teatro Universitário de Dourados (TUD), projeto iniciado em agosto de 1974 e que esteve em atividade durante 17 anos. O TUD foi um importante grupo cultural articulado dentro do Centro Universitário de Dourados (Ceud), na época, campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS, hoje Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)). Da semente lançada lá atrás por Biasotto e pelo TUD nasceram frutos, como a luta por um espaço adequado para apresentações (o Teatro Municipal, inaugurado em 1998) e a criação do curso de Artes Cênicas da UFGD, em 2009, dentre outras iniciativas destinadas a fomentar o setor. Para comentar como foram seus "starts", suas descobertas da vocação para essa arte, suas experiencias pessoais e sobre a "cena" teatral da cidade, dentre outros temas, O Progresso ouviu três alunos do curso de Artes Cênicas da UFGD, em diferentes estagios da formação acadêmica: Kaio Ramos, Giovana Machado e Mariane Rodrigues. "Aos oito anos de idade, estava no colégio em São Paulo, capital, onde nasci e fui criado. Daí vem o bicho “teatro” e me morde e come em várias participações de experimentos teatrais no ensino fundamental", contou o ator Kaio Ramos. "Oficinas disponibilizavam novos horizontes para ter mais vontade. Por ser de uma familia da classe trabalhadora, que sempre trabalhou para se sustentar, eu sempre tentei mostrar o Teatro como uma forma de trabalho como qualquer outro, não é luxo. É necessario! Porem eu sou isso, ele me completa", prosseguiu, acrescentando que a cada subida no palco é como se fosse a primeira vez. "Penso que sempre é a primeira vez! Quando entro no palco, vem a sensação que nunca fiz aquilo, mostrando uma espécie de encantado. A uma catarse, um aprofundamento de minha alma… Quando entro no palco. Embriaguez consciente total", definiu o ator, que traz no currículo a atuação em peças como Quarança- (2019) Trópicos- (2021), Viúva, Porém Honesta(2022), Direção Flávia Janiaski, ABAPORU- (2022) e As Últimas Notícias do Século- ( 2023) . Das fontes de inspiração, Kaio citou autores/diretores como Zé Celso Martinez, ("pela genialidade da continuação e reafirmação do Teatro Antropofágico", justificou) e Augusto Boal ("pela grande inspiração de teatro em comunidade e alicerce para povos oprimidos"). No que tange a atores José Wilker, Fernanda Montenegro, Raul Cortez, Marilia Pera, Tarcisio Meira, Gloria Menezes, Francisco Cocco, Lima Duarte, Nicette Bruno, dentre outros. "A capacidade de transmutação, metamorfose que esse pesoal tem e teve é absurda. Ser ator perpassa pela teorização e pratica. O teatro é algo inacabado…isso que torna tão forte, vem do ser existente chamado individuo\homosapinssapins", considera o ator, que define o teatro em Dourados como "diversificado, porém não sem uma atenção ou fomentação da parte de alguns orgãos públicos responsaveis de olhar e entender essa diversidade teatral". Ele citou como espaços culturais que fortificam o continuar as praticas teatrais dentro do município o Sucata Cultural e Casulo. Suas referências na cidade são Emmanuel Marinho ("pela genialidade e alquimia do teatro e poesia"), e o Sucata Cultural ("pela persistência e carinho pela prática"). Sobre a contribuição do teatro para as pessoas, Kaio Ramos acredita que essa arte "é a essência do individuo, é humanidade". "A prática e reflexão de nós mesmos. Traz questões que precisamos questionar, rever, poder amar… Ela move, transmuta materiais e pensamentos. Ela dá vozes, não cala os gritos das almas imersas na embriaguez e cegueira do cotidiano", avaliou. A acadêmica/atriz Mariane Rodrigues teve sua "descoberta" para o teatro entrando ativamente na área das artes. "Sempre gostei muito de cantar, dançar e tinha certo interesse na atuação; conforme fui crescendo, surgiu o desejo de fazer teatro musical e depois de pesquisas, aos 15 anos, comecei a investir nisso e fazer teatro. Foi nessa imersão que tive a certeza de que era nesse ramo em que queria investir profissionalmente e estudar mais", relatou. "A minha primeira apresentação aconteceu em 2018 com peça "Por onde for ... floresça" na Escola de Teatro Juliana Leite (Limeira/SP), foi uma sensação maravilhosa e eu estava super empolgada. Me recordo muito bem que foi um ano de preparação muito gostoso e enriquecedor, o ambiente seguro criado nos ensaios ajudou muito e eu estava super ansiosa pois tinha um monólogo todo coreografado logo na segunda cena", recordou a atriz, com o brilho nos olhos de quem ama o que faz. Ela já atuou nas peças"Por onde for ... floresça" (2018, SP), "Alice na Terra de Oz" (2019, SP), "Uma Herança em Jogo" (2021, SP), "O Pagador de Promessas" (2021, SP), "Dilemas de Uma Atriz" (2021, SP) e "O Rei Leão br-py" (2023, MS). Uma das suas maiores inspirações é a professora de teatro Juliana Leite, segundo relatou na entrevista. "Foi minha primeira professora de teatro e é uma incrível e dedicada profissional. A direção dela me admira muito. Também na área teatral Grace Passô, Esther Arieiv, Miguel Falabella, Cláudia Raia e Fernanda Montenegro, são referências de atuação nos palcos e uma ótima preparação", enumerou a atriz. Para ela o teatro em Dourados possui grande potêncial, mas precisa de valorização e investimento."Falta maior parceria entre as casas de cultura e também divulgação de forma geral nas mídias para maior alcance na população douradense, e não apenas as mesmas pessoas da classe artística que já frequentam esses ambientes. Temos vários espetáculos ricos em conhecimento e para diversas faixas etárias circulando pela cidade.", ponderou. "Primeiramente destaco o Sucata Cultural e Casulo que proporcionam oportunidades para a circulação de alguns espetáculos.Em segundo lugar, alguns grupos que têm apresentado recentemente, como a Raquel Stainer com o espetáculo "Descalço" e a Cia Mato Elétrico, o Coletivo Clandestino, o Núcleo Cena Viva e a Cia Última Hora", observou, ao comentar a "cena" tetral na cidade. Mariane ainda está em formação na graduação, faz licenciatura e depois pretende seguir com o bacharelado em Artes Cênicas. "Ainda não me decidi ao certo em qual área especificamente quero me aprofundar - mesmo sendo multi-artísta e, na área, todo mundo sabendo mais ou menos um pouco de tudo. Ainda assim, pretendo me dedicar mais à direção teatral", concluiu. Giovana Machado, a última entrevistada, contou que, desde muito nova, nunca conseguiu se ver fora das artes cênicas. "Sempre fui apaixonada por mundos e histórias diferentes retratadas em uma peça de teatro. Quando pequena, lembro-me de querer participar ativamente das peças escolares. Não possuo ao certo um momento de start para a arte, pois desde que me entendo por gente a arte está dentro de mim. Sempre tive certeza de que queria ser atriz", disse. Giovana faz parte da 13º turma de Ates Cênicas da UFGD, que teve como um de seus maiores projetos a peça teatral “O Rei Leão br-py”, na qual ela interpretou a personagem Zazu. Dentre os autores que Giovana admira, alguns autores de teatro nacional estão Plínio Marcos, Nelson Rodrigues, Hilda Hilst, entre outros. "Já os atores de teatro que tenho como fonte de inspiração são Lázaro Ramos, Fernanda Montenegro, Marco Nanini, Laura Cardoso, Selton Mello, dentre inúmeros outros grandes artistas. "O teatro douradense tem se consolidado bastante com o passar dos anos. Há 10 anos atrás, dificilmente se encontrava uma peça de teatro para assistir. Hoje em dia, com os espaços culturais que vêm ganhando força na cidade (Sucata Cultural, Casulo), juntamente com o curso de Artes Cênicas da UFGD, as artes teatrais vêm acontecendo com muita frequência. É possível encontrar peças de teatro de excelente qualidade em Dourados. No entanto, não podemos negar que é um ramo que carece maior investimento na cidade. Neste Dia Nacional do Teatro, é relevante ressaltarmos também que a cidade de Dourados se encontra com o Teatro Municipal interditado há anos, à espera de uma reforma", cobrou a atriz, reverberando a voz de diferentes segmentos artisticos. Os grupos de teatro que Giovana considera de maior destaque são Cia Última Hora, Cia Theastai, Núcleo Cena Viva de Teatro, Cia Mato Elétrico, Coletivo Clandestino e o Grupo Orendive Teatro. "Destacar todos os atores e atrizes que considero de enorme bagagem dramatúrgica em Dourados seria muito difícil, então irei mencionar apenas alguns, que são eles: Ariane Guerra, Marcos Chaves, João Rocha, Kaio Ramos, dentre tantos outros", disse. Sobre a relalção teatro/platéia, Giovana destaca o papel questionador do teatro e seu ppoder de tirar a "aridez" do dia a dia. "Creio que o teatro, além de possuir enorme viés crítico, possui a capacidade de fazer as pessoas sonharem e se divertirem. A forma com que essa arte tira as pessoas do cotidiano é diferente de todas as outras. O teatro tem muita semelhança com a vida: acontece na hora e não dá para mudar. Acredito que essa característica é muito potente, pois o público acompanha a narrativa em tempo real, com maior vivacidade de sensações", avaliou. Cursando o 6º semestre do curso de Artes Cênicas na Universidade Federal da Grande Dourados, Gionava destaca a importância do curso, tanto para a formação como para a informação do público extra-campus. "Eu acredito que o curso de Artes Cênicas possui uma enorme relevância no meio cultural da cidade de Dourados. O curso surgiu no ano de 2009 e, desde então, vem transformando a cena cultural da cidade. Graças a ele, diversos grupos teatrais passaram a existir no município, trazendo cultura e consciência para as pessoas, consciência da importância da arte para uma vida em sociedade", finalizou Giovana Machado
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