Além de contaminar pessoas, febre maculosa também pode afetar animais domésticos
Além de servirem como "transporte" para o carrapato-estrela, causador da febre maculosa, animais domésticos também são vítimas da doença
26 SET 2023 POR SUSANNA NAZAR*/JORNAL DA USP NO AR
Carrapato transmissor da febre maculosa - Crédito: CDC/Dr. Christopher Paddock/James Gathany via Wikimedia Commons Domínio Público
O Brasil registrou uma série de mortes de pessoas vitimadas pela febre maculosa, o que gerou preocupação das autoridades. Até o início de julho deste ano, o Ministério da Saúde tinha confirmado 60 casos da doença em todo o território nacional, sendo que 11 evoluíram para óbito. Ainda nesta semana, Campinas confirmou a sétima morte por febre maculosa. A preocupação não deve ser apenas com a transmissão da doença para humanos. O perigo se estende também aos pets.
Apesar de ser mais encontrado em animais silvestres ou nos de cativeiro, como capivaras, coelhos, equinos e bovinos, o carrapato-estrela também pode afetar os pets, em especial, os cães. A febre maculosa é uma doença infecciosa transmitida pela picada do carrapato infectado, principalmente pelo carrapato-estrela.
Isabelle Rodrigues dos Santos – Foto: Arquivo Pessoal
Segundo a médica veterinária Isabelle Rodrigues dos Santos, mestre em Ciências e doutoranda em Fisiologia pela USP, embora o carrapato-estrela seja conhecido por infestar uma ampla variedade de hospedeiros, incluindo animais selvagens e de produção, os animais domésticos, como os cães e os gatos, também são propensos a serem hospedeiros desse tipo de carrapato, o que pode trazer prejuízo à saúde dos pets.
“Em especial os cães, principalmente devido ao comportamento das espécies. Um exemplo disso são os momentos que passam ao ar livre em jardins, parques, florestas, em locais que há maior probabilidade de encontrar esses carrapatos”, afirma a veterinária. Além disso, Isabelle explica que eles tendem a ter um comportamento explorador do ambiente, facilitando a exposição às áreas infestadas por carrapatos.
Cuidado e prevenção
É muito importante que os donos dos pets se atentem aos seus animais após passeios em locais de risco. A especialista indica como forma de prevenção o uso de coleiras repelentes, sprays e medicamentos de uso tópico que podem ser aplicados diretamente na pele do animal, facilitando a morte dos carrapatos, além de medicamentos via oral.
A febre maculosa em cães e gatos pode causar sintomas que vão desde uma simples coceira até lesões hemorrágicas. “São sintomas que não são clássicos da febre maculosa e podem ser facilmente confundidos com outros tipos de doença, mas que, quando associados à presença de carrapatos na pele desse animal, facilita muito o diagnóstico veterinário”, aponta Isabelle.
Saúde humana
Além de ser uma doença prejudicial para os próprios animais, o cuidado e a atenção devem ser pensados no que representam para a saúde humana também. A técnica em Segurança no Trabalho Ana Paula de Tolvo Miranda Molero, do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) da USP, em Ribeirão Preto, reforça o cuidado com a prevenção, já que os pets podem servir como transporte para o carrapato.
Ana Paula de Tolvo Miranda Molero – Foto: Arquivo Pessoal
Segundo ela, o ideal é manter a grama aparada para permitir a incidência de sol e facilitar a dissecação dos carrapatos; sinalizar áreas que tenham a presença de carrapatos; caso seja imprescindível adentrar áreas de infestação, vistoriar o corpo em intervalos inferiores a três horas e, se possível, fazer uso de roupas brancas, mangas longas, calças e botas vedadas, fervendo-as após o uso se necessário; ao encontrar um carrapato no corpo retire com uma pinça.
“Se você tiver algum sintomas da febre maculosa, deve sempre procurar atendimento médico e avisar que você esteve em áreas que podem ter carrapato ou que tinham algum animal silvestre. Mesmo que você não encontre carrapato no corpo, deve relatar isso ao médico”, orienta Ana Paula.
No início, a febre maculosa pode apresentar sintomas parecidos com os de outras doenças como a dengue, algumas viroses, doenças bacterianas, entre outras. O professor do Departamento de Medicina da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos) Felipe Carvalho, infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP e especialista no assunto, explica que, no início, os pacientes podem apresentar febre alta, pontos rosados ou vermelhos na pele, dor de cabeça, dor no corpo e nas articulações, vômitos e diarreia, perda do apetite, indisposição e mal-estar.
Felipe Carvalho – Foto: Arquivo Pessoal
O problema passa a ser a partir do quarto ou quinto dia, quando o quadro do paciente se agrava. “O quadro dos danos vasculares se intensifica e as manifestações se tornam muito mais graves. O paciente pode apresentar insuficiência renal, respiratória e cardíaca, manifestações hemorrágicas e neurológicas, falência de múltiplos órgãos e até mesmo a morte”, descreve.
Nesse caso, o especialista aborda a febre maculosa clássica, causada pela Rickettsia rickettsii, que apresenta uma evolução mais grave do que a outra causada pela Rickettsia parkeri. “A grande dificuldade é fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento precocemente, no momento em que seja possível evitar a progressão do dano vascular, evitando assim as complicações, sequelas e eventualmente a morte de pacientes”, finaliza o infectologista.
*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior
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