Índios são discriminados e não aceitam retratação de FM Pioneira em Dourados
Nossa comunidade está pasmada com o desatino dos ditos “radialistas/jornalistas” e criticam direção da emissora por não mostrar posicionamento austero, ético, parcial e transparente
Lideranças da Reserva Indígena de Dourados, tendo à frente o advogado criminalista e Coordenador do Odin – Observatório dos Direitos Indígenas - Regional Centro Oeste, e Tiago Fernando Soares Aquino – do Escritório Matos e Vergílio Advogados, da Aldeia Jaguapiru e representante dos Acadêmicos Indígenas da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS, procuraram o Gazeta MS e retrataram o sentimento de revolta e indignação que vive a comunidade com a declaração feita em um programa matinal da Grande FM, no início dessa semana, no quadro “Na Boca do Povo” dentro do programa Espaço Aberto.
As declarações aconteceram durante a discussão sobre um novo modelo de saco de lixo ecológico, com um odor que repele gatos e cachorros, evitando assim que eles rasguem as embalagens em busca de restos de alimentos. Em meio à conversa surgiu um comentário dizendo que “servem também para os índios que são acostumados a rasgar saco de lixo...”; na mesa quatro apresentadores experientes.
O vídeo com a sonora rapidamente ganhou notoriedade e em seguida o telefone e a rede social da emissora foram bombardeados pela indignação entre ouvintes e internautas. “Hoje em dia você paga aqui, no mercado, a média de vinte sacos daquele, forte resistente e ele tem uma vantagem viu, nesses novos sacos que estão saindo, ele tem um cheiro muito forte. E esse cheiro inibe a chegada do gato pra rasgar o saco de lixo”, leu a nota um dos radialistas. Em seguida outro jornalista soltou – “gato rasga saco, os índios também adoram rasgar saco de lixo” enquanto o outro completa – “...e botar um cheiro para espantar os índios, vai ser difícil hein?”, em risos. No vídeo dá para notar o olhar compenetrado do âncora, ele deve ter pensado – deu ruim, fizeram caca.
“Somos absolutamente contra discriminação, racismo e preconceito, como mostra o vídeo gravado pela emissora; eles, de forma sarcástica, riem de tal afirmação, salienta Wilson Matos, enfático ao dizer, qualquer tipo de discriminação, seja qual for o nível, disparou.
Procurado pelo Gazeta MS, o diretor geral da Grande FM, Mauro Alcântara disse que “medidas estão sendo tomadas”, e reconhece que houve erro “pelos pouco mais de cinco segundos do quadro na Boca do Povo, dentro do programa Espaço Aberto”. Ele acrescentou que a rádio é e sempre será parceira dos povos indígenas, bem como dos demais”. Perguntado se os radialistas sofrerão alguma sanção disciplinar, o diretor se limitou a dizer que tudo está sendo feito para manutenção da ordem (...sic).
Por sua vez, a comunidade indígena não aceita retratação; respeita mas não aceita. Tanto Wilson Matos quanto Tiago Aquino criticam a da direção da emissora posicionamento de respeito, plural, humanitário. “Esse veículo de comunicação, o rádio, nasceu para ser um instrumento de utilidade pública, serviço e prestação de serviços à comunidade, lamentavelmente a maioria das empresas bota na frente pessoas desqualificadas que prestam desserviço e a maior máquina de comunicação de massa no mundo, transforma-se numa metralhadora manuseada por inconsequentes atingindo principalmente índios, pobres e quilombolas, nós não vamos nos calar”, desabava.
Reflexão
No encerramento eles citaram o líder Marçal de Souza (Tupã-I) que significa Deus Pequeno na lingua guarani, para clamar por respeito - “Eu creio que no Brasil inteiro vai se levantar, se é que já não se levantou, Índios esclarecidos como eu que levantarão sua voz em prol de sua raça. Nos reclamamos a injustiça, a calúnia, a pobreza, a fome que a civilização nos trouxe”.