Pandemia aumenta chegada de imigrantes em Dourados
Mais de 4 mil quilômetros separam Pacaraima, principal porta de entrada para venezuelanos que migram para o Brasil, de Dourados. Ainda assim, o município sul-mato-grossense é um dos principais destinos finais para os migrantes. Contudo, os números reais sobre a quantidade de pessoas que deixaram a Venezuela e se instalaram aqui ainda é incerto. Com o agravamento da pandemia causada pelo novo coronavírus, a situação se tornou ainda mais sensível.
O último relatório da Operação Acolhida, publicado em junho de 2020, aponta Dourados como o quarto principal destino no País e indica que 2.152 venezuelanos vivem na cidade - 78% dos que vieram para Mato Grosso do Sul. O dado oficial, no entanto, pode estar aquém do número real, uma vez que há dificuldade em constatar a presença de quem veio para a cidade de forma informal.
Essa é a visão da professora Luciana Campos Oliveira, que coordena um projeto de extensão na UFGD com o objetivo de promover, monitorar e avaliar a Operação Acolhida. "Existem as pessoas que vem pelos meios oficiais e que contam com uma estrutura de suporte e apoio, mas há também quem chega aqui de forma independente", explica. Quanto a covid, Luciana ressalta que foram implantados protocolos para a recepção dos refugiados. No entanto, o número de imigrantes caiu bastante. A Força Aérea Brasileira suspendeu os voos, que eram parte importante da Operação Acolhida. No final de maio, uma mulher venezuelana de 27 anos foi vítima do coronavírus.
Força-tarefa em meio à pandemia
"Há uma força tarefa em andamento para determinar os casos de maior vulnerabilidade, como aqueles que estão em situação de rua. Também buscamos expandir o acesso de toda essa população ao cadastro único", detalha Shirley Flores Zarpelon, diretora da Proteção Social Especial, órgão da Secretaria Municipal de Assistência Social. Um dos pontos centrais das ações do poder público, no momento, é o incentivo à inscrição no Cadastro Único (CadÚnico), uma ferramenta do Governo Federal para identificar famílias de baixa renda e garantir sua inclusão em programas de assistência social e redistribuição de renda. Para determinar o número de imigrantes venezuelanos em situação de vulnerabilidade esses dados são fundamentais, mas Shirley ressalta que o esforço para isso é grande.
"Já está encaminhado, mas demanda tempo, treinamento de equipe e aplicação de questionários, o que foi dificultado pelas restrições impostas diante da pandemia", pontua.
Perfis variados
O fluxo migratório da Venezuela para o Brasil é composto por pessoas de perfis diversos, integrantes de diversas camadas sociais. Os dados da OIM apontam para uma maioria masculina, viajando em sua maioria com grupos familiares. Em Dourados ainda não é possível traçar esse perfil, mas existem esforços para que isso seja compreendido de forma mais técnica. "Todo censo é um processo muito complexo", define Luciana.