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Foto do escritorOdir Pedroso

Aulas online excluem mais de 400 alunos indígenas da Universidade, diz manifesto

O anúncio das aulas remotas na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) deixou lideranças indígenas preocupadas em Dourados. Movimento acredita que a medida poderá excluir 428 alunos da universidade que não têm acesso a internet.

Jaqueline Kuña Aranduhá, membra da organização de Mulheres Guarani e Kaiowá Kuñangue Aty Guasu, estudante de Antropologia na Universidade Federal Da Grande Dourados, tem feito apelos para que a universidade reveja a medida. "A reitora não considera a pandemia, o e o momento de colapso na saúde pública que vive Dourados e o estado de Mato Grosso Do Sul. Já tivemos a primeira morte de uma funcionária da FCH (Faculdade de Ciências Humanas). Quantos acadêmicos indígenas estão cientes da Portaria RTR n. 367 de 29 de junho de 2020 e Resolução CEPEC Nº 107 de 29/06/2020 - Regulamento e calendário PG Emergencial?", indaga.

Jaqueline faz uma análise sobre a falta de acesso a internet nas comunidades indígenas. "O povo Guarani e Kaiowá sempre teve sua luta invisibilizada. Na UFGD quando diz indígenas na universidade, logo se dirigem a Faculdade Intercultural Indígena (FAIND). Estamos em todos os espaços, em variados cursos. A UFGD está há alguns quilômetros da Reserva Indígena mais populosa do Estado com casos positivos de CoronaVírus mais alto do estado, e já com dois óbitos, é uma violência extrema a reitora não considerar o momento grave em que vive o nosso povo. A falta de internet, em plena pandemia só deixa o nosso povo ainda mais exposto ao vírus, e as aulas remotas da UFGD, vai fazer com que acadêmicos vão em busca de internet, saiam de suas casas colocando seus corpos, suas comunidades e suas famílias em risco. A UFGD vai arcar com as consequências se um acadêmico for contaminado durante a realização das aulas remotas?", questiona.

Além do manifesto público, as lideranças pretendem buscar um diálogo com a reitoria. "Somos um povo em território ameaçados e sofrendo uma extrema violência com negação de direitos do estado com a chegada da Pandemia, uma doença que não tem cura, que mata, quais as condições que a UFGD oferece aos acadêmicos indígenas para cumprir as aulas remotas? A reitora escancara um projeto de precarização extrema do ensino e do trabalho, e fomenta a sobrecarga aos docentes, e ainda mais às mulheres que são mães. Vamos tentar dialogar com a reitoria enquanto estudante, enquanto movimento tradicional Guarani e Kaiowa. É um momento em que o ensino remoto traz a extrema precarização, e um grande aliado do programa Future-se", acrescenta.

Segundo ela a situação dos povos indígenas fica ainda mais precária, com as decisões do Governo Bolsonaro, principalmente em relação aos vetos a estruturação nas aldeias como a garantia de acesso universal à água potável; a distribuição gratuita de materiais de higiene e limpeza para desinfecção de aldeias e comunidades, entre outros.

Outro lado Questionada sobre as indagações das lideranças, a Comunicação da |UFGD garantiu que o uso da internet não é obrigatório. "A escolha deste modelo se deu justamente pela porcentagem de alunos que não dispõem de Internet ou ferramentas tecnológicas, entre eles, os acadêmicos indígenas. Além disso, a Universidade, através da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (PROAE) estará viabilizando auxílio aos alunos, tanto das aldeias como em situação de vulnerabilidade, através de editais específicos atender as demanda", destacou.

A UFGD publicou dia 29 de junho, a Portaria nº 367 sobre a retomada em forma de ensino remoto das atividades letivas da graduação e pós-graduação, no dia 3 de agosto. A decisão foi tomada com embasamento em estudos internos e em recente pesquisa realizada pelas pró-reitorias (disponíveis no final da matéria), cujos resultados foram divulgados em matéria anterior.

A Universidade adotou o ensino em formato remoto, em atendimento às orientações das autoridades de saúde e órgão reguladores sobre manter o distanciamento social. "Remoto", segundo o dicionário Aurélio, significa longe do espaço; distanciamento.

Ao adotar o formato remoto para o ensino, a UFGD precisava escolher uma das f


ormas que assegurassem distanciamento social. São elas: Educação a distância (EAD), o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e o Regime Acadêmico Emergencial (RAE). Analisando as possibilidades oferecidas por cada uma e suas metodologias, a UFGD escolheu o RAE em virtude de evitar a exclusão digital e conter a evasão.

Manifesto Guarani&Kaiowá contra o retorno das aulas remotas na Universidade Federal da Grande Dourados

Nos, Conselhos Tradicionais Guarani e Kaiowá, Aty Guasu, Kuñangue Aty Guasu e Retomada Aty Jovem, viemos por meio desta nos manifestar contra à Portaria RTR n. 367 de 29 de junho de 2020 e Resolução CEPEC - Regulamento e calendário PG Emergencial.

O retorno das aulas remotas da Universidade Federal Da Grande Dourados/MS, não considera as condições dos acadêmicos (as) indígenas, há uma grande desigualdade de condições para o acesso e permanência.

A atual reitora da UFGD ameaça e viola o direito dos Povos Guarani e Kaiowá, pois os mesmos para ter acesso às aulas/atividades remotas da UFGD, terão que sair de suas casas em busca de conexão de internet expondo seus corpos à pandemia, terão que se deslocar para o espaço urbano ou local mais próximo que tenha wi-fi, correndo o risco de serem infectados por essa doença que ainda não tem cura. O Coronavírus já avança com força nas comunidades Guarani e Kaiowá da Reserva Indígena de Dourados chegando à quase 200 casos e dois óbitos, e já se espalhou por outras comunidades Guarani e Kaiowá.

Exigimos que a Universidade Federal Da Grande Dourados acate o nosso pedido, pois nem a mesma terá condições de arcar com as consequências se os acadêmicos Guarani e Kaiowá forem infectados com o COVID-19.

Nós estamos há quatro meses, construindo e reconstruindo caminhos para impedir a expansão do vírus em nossa comunidade, nossa equipe de Ações Emergenciais Guarani e Kaiowá vem construindo barreiras sanitárias para impedir a circulação de pessoas de outros locais em nossas comunidades, não temos apoio do estado, somos nós lutando por nós, pela vida da nossa comunidade, de nossos filhos, pela vida do Povo Guarani e Kaiowá. Portanto essa decisão de voltar as aulas da UFGD, ameaça a nossa vida, a vida de nossos filhos, a vida de nossa comunidade.

Considere reitora, diretores (as) e coordenadores (as) da UFGD, a nossa vivência Guarani e Kaiowá é diferente de vocês que vivem em espaço urbano, somos um povo que vive em territórios indígenas, onde para os acadêmicos indígenas cumprir as aulas remotas sem a garantia do padrão de qualidade do ensino, o martírio em busca de internet e colocar o corpo a vida em risco frente a pandemia Coronavírus é grande, tomem conhecimento disso.

Estamos disponíveis para dialogar, mas que sejam encaminhamentos que respeite a nossa organização, o nosso povo Guarani e Kaiowá. Mais uma vez afirmamos que somos contra o retorno das aulas da UFGD.

Não é uma gripezinha, é a vida do nosso povo

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