Médico que morreu por Covid ficou sem leito de UTI por quase 30 horas
O médico cardiologista Dirceu Ferreira Guimarães, de 82 anos, que morreu vítima de Covid-19 em Dourados, esperou quase 30 horas por um leito de UTI até ser atendido. A denúncia é da filha, a advogada Valeska Guimarães, que levou o caso até o Ministério Público e Defensoria Pública do Estado.
Ao O PROGRESSO ela contou que o pai deu entrada no Hospital da Vida no dia 18 de junho às 15h30, com quadro de dispneia. Foi levado a área vermelha em estado grave. A recomendação médica seria para que ele fosse encaminhado para a UTI, porém não havia vaga, segundo ela, na unidade.
Segundo Valeska foram horas de muitas dificuldades em busca de um leito de UTI. "Um fato que me chamou a atenção é que tínhamos que ficar solicitando vagas o tempo todo. O Município deveria ter um sistema que pudesse rastrear a fila de espera com prioridade aos idosos. Não foi isso que vimos", ressalta, observando que ela e o irmão praticamente "acamparam" no hospital para garantir que o pai fosse atendido. Segundo a filha, no hospital da Vida os leitos de UTI novos estavam desativados.
Após 28 horas de espera, foi cedida vaga de UTI com ventilação mecânica. Outro detalhe que chamou a atenção da advogada é que o primeiro exame realizado ainda na UPA deu negativo para Covid e que após passar pela área vermelha do Hospital da Vida, em contato com vários pacientes e chegar ao Hospital Universitário um novo teste deu positivo, o que, segundo ela pode ser um indício de infecção intra-hospitalar.
A advogada ingressou com ação na expectativa de alertar o poder público sobre a falta de vagas de UTI, já que ficou indignada ao ver a Prefeitura informar a disponibilidade de leitos quando a realidade é outra, já que durante essas 28 horas, hospitais públicos e privados informaram a negativa de vagas. "Meu pai trabalhou muitos anos na rede pública e sempre acreditou no SUS. Não posso afirmar se poderíamos ter salvo a vida dele se tivesse recebido o atendimento recomendado desde o início e espero que essas indagações sejam respondidas no decorrer do processo. Muitas famílias podem estar sofrendo o mesmo e não sabem como denunciar e exigir um tratamento digno aqueles que precisam da Saúde Pública", alerta.
MP
Ao O PROGRESSO, a 10 Promotoria de Justiça informou que foi instaurada a Notícia de Fato nº 01.2020.00005657-0 dentro da qual serão solicitados os documentos alusivos à situação fática narrada por ela para posterior análise.
Secretaria de Saúde
O secretário de Saúde de Dourados, Gecimar Teixeira informou que não acompanhou o caso de perto porque não estava a frente da Pasta e portando não poderá se pronunciar. Descartou, por exemplo, que haja falta de vagas. Disse que a taxa de ocupação de leitos estava em 61% no último dia 15.
Judiciário
Mesmo a Prefeitura de Dourados tendo recebido recursos federais de R$ 4,3 milhões sem implementar o total de leitos de UTI Covid-19 previstos e a taxa de ocupação de leitos chegar a 80%, o juiz da 6ª Vara Cível da Comarca de Dourados, Emerson Ricardo Fernandes rejeitou o pedido do Ministério Público Estadual que buscava obrigar o Município a implementar novos leitos de uti.
O MP também pediu a interferência do Estado para assumir a regulação de leitos de UTI para a microrregião de Dourados, de forma a atender com segurança os pacientes. Em relação a isto o juiz destacou: "O pedido de interferência na gestão da saúde pública, acaso fosse acolhido, faria com que o judiciário fosse, de certa forma, protagonista de papel que não lhe é conferido constitucionalmente, havendo grave afronta ao Poder Executivo", disse o magistrado em relação à Ação Civil Pública Cível do MPMS, aberta contra a administração municipal.