"1922, a Semana que não quer terminar... precisamos de outras coisas!", diz Secchin
O poeta e membro da ABL Antônio Carlos Secchin, esteve quarta-feira (27), em Campo Grande, onde proferiu palestra em evento literário. Confira a entrevista concedida para aPresidente da Academia Feminina de Letras e Artes de MS, Delasnieve Daspet
28 SET 2023 - 10H26POR DELASNIEVE DASPET, PRESIDENTE DA ACADEMIA FEMININA DE LETRAS E ARTES DE MATO GROSSO DO SUL
Crédito: Divulgação
Tive a oportunidade de conversar com um dos grandes escritores de nosso pais, Antônio Carlos Secchin, que entre outras coisas diz que “acho que devemos estudar os grandes nomes não para imitá-los, mas exatamente para, ao perceber sua grandeza, sabermos que é necessário ir por outros caminhos”
Secchin é poeta, ensaísta e crítico literário brasileiro. É membro da Academia Brasileira de Letras, eleito em 3 de junho de 2004, sucedendo Marcos Almir Madeira. Doutor em letras, é professor titular de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 1993. É o atual Secretário Geral da ABL, e, esteve em Campo Grande, convidado que fora pela Presidente da Academia Feminina de Letras e Artes de Mato Grosso do Sul, num evento literário que aconteceu ontem (27), em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Life Editora e Associação Internacional de Poetas.
Falamos, evidentemente, de poesia, eu descobri em uma das várias entrevistas suas que li este ensinamento: “A poesia brasileira contemporânea ostenta marcas de sofisticação intelectual, sem que isso implique necessariamente ganho qualitativo. Ter mais acesso à informação não significa saber transformar essa informação em poesia. Se é no corpo-a-corpo com as palavras que se faz o poema, às vezes o corpo excessivamente paramentado do artista pode até dificultar a consumação do ato...poético”
E, falamos da Semana de 22 – que foi o tema de sua palestra, ontem, quarta-feira, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – e, feliz, descobri que – a respeito desse tema, pensamos da mesma forma... Confira, abaixo:
Delasnieve Daspet: É sua primeira vez em Mato Grosso do Sul? Sua palestra será sobre questões literárias envolvendo a Semana de Artes Moderna, ocorrida em 1922. O senhor sempre afirma, em palestras e entrevistas de que “A Semana virou muito mais o que se falou sobre ela do que propriamente o que aconteceu nela” – Esse fato é objeto de seu interesse, pesquisas, etc... No que consiste o silêncio e palavras em torno da semana da arte moderna?
O seu estudo e pesquisa sobre a semana – se concentra no que foi dito e não dito. O que foi silenciado sobre a semana constituem o objeto de interesse nessa palestra? A semana de 22 foi preponderante p a literatura brasileira?
Antônio Carlos Secchin: - A Semana de 22 foi a maior operação de marketing da literatura brasileira, tratada como se fosse o."marco zero" de nossas letras. Defendo que o que lá se fez, em 1922, é muito diferente do que lhe atribuíram. Ela foi magnificada, para o bem e para o mal. E transformou-se em referência incontornável para os estudiosos de nossa cultura
Delasnieve Daspet: - Quem viaja com o escritor Antonio Carlos Secchin – o poeta ou o critico? Sua poesia o acompanha ou o critico se sobrepõe ao poeta?
Antônio Carlos Secchin: Os dois viajam juntos, e, na medida só possível, tento conciliá-los, injetando doses críticas na poesia e formulações poéticas no ensaio.
Delasnieve Daspet: - As editoras não gostam de publicar poesia. Depois de não sei quanto tempo a Almedina – finalmente vai publicar poesias – porque isso acontece e o que é necessário para que se mude esse panorama?
Antônio Carlos Secchin: Difícil mudar. Livros de poemas sempre ocupam o topo da lista dos menos vendidos. O que, por outro lado, desvincula o poeta das expectativas do mercado e lhe fornece um campo extenso de liberdade.
Delasnieve Daspet: João Cabral de Melo Neto foi e é motivo de vários estudos e análises de sua parte. Qual a sua identificação?
Antônio Carlos Secchin: A ideia de poema como construção, o mais possível controlada ( mas não de todo!), sempre me atraiu , da perspectiva do crítico. Mas, enquanto poeta, prefiro tentar construir de outro modo. Imitar Cabral teria necessariamente como resultado um subCabral.
Delasnieve Daspet: Todas as artes bebem da fonte da literatura. Entretanto, ela é a prima pobre... Na sua ótica o que precisaria ser feito para que o brasileiro se interessasse mais pela leitura?
Antônio Carlos Secchin:.Difícil falar numa fórmula...Melhor investir na educação de base. Tudo vem daí.
Delasnieve Daspet: Ainda sobre a literatura - como ela se encontra no contexto mundial? Como poderíamos formar novos leitores numa época de conteúdos rápidos e imagéticos? a literatura brasileira está melhor hoje do que no passado?
Antônio Carlos Secchin: A barreira da língua, infelizmente, atua contra nós. Língua admirável, mas com a concorrência de outras com muito mais capilaridade. Daí o número relativamente restrito de obras brasileiras que são anualmente traduzidas. Ainda bem que há um programa de incentivo à tradução, promovido pela Biblioteca Nacional.
Delasnieve Daspet: A impressão que tenho é que a arte brasileira precisa de uma nova semana como a de 22, com eventos marcantes e novas propostas. Nos encontramos estacionados, na semana de 22. O que pensa a respeito?
Antônio Carlos Secchin: 1922, a Semana que não quer terminar... precisamos de outras coisas!
Delasnieve Daspet: Ninguém fica imune à televisão, ao espetáculo, à globalização, ao banal. Como integrar isso tudo com trabalho intelectual e criação literária? E, no tempo em que o dinheiro é quase tudo, quem são esses homens e mulheres que se dedicam a poesia? Quem é o poeta brasileiro? Por que você escolheu a poesia?
Antônio Carlos Secchin: Literatura, do ponto de vista de um poeta-investidor, é o meio mais seguro de perder dinheiro. Mas em geral o poeta não escolhe a poesia, é ela que o escolhe. Mesmo que de vez em quando erre na escolha.
Delasnieve Daspet: Finalizando - qual panorama da literatura brasileira atual, e, não poderíamos deixar de mencionar e pedir sua opinião sobre o fechamento das grandes livrarias como Saraiva e Cultura , que migraram t[14:06, 26/09/2023] Antonio Carlos Secchin ABL: A Semana de 22 foi a maior operação de marketing da literatura brasileira, tratada como se fosse o."marco zero" de nossas letras. Defendo que o que lá se fez, em 1922, é muito diferente do que lhe atribuíram. Ela foi magnificada, para o bem e para o mal. E transformou-se em referência incontornável para os estudiosos de nossa cultura.
Antônio Carlos Secchin: A literatura tem de ser adaptar às novas tecnologias de difusão. Lamento profundamente o fechamento das livrarias. Sou um aficionado da obra física, mas antes um livro físico do que livro nenhum.
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